O doce da cocada de licuri, posto carinhosamente na recepção da Câmara de Vereadores (as) de Várzea da Roça, não apaga o amargo das desigualdades e violências sofridas pelas mulheres do município e da região. Mas, o licuri representa a resistência das mulheres, explica a vereadora Joilma Rios, parlamentar que solicitou a Audiência Pública, realizada nesta sexta-feira (13), pela Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa da Bahia.

Com o tema "Violência contra a Mulher, feminicídio e políticas de empoderamento", a Audiência foi conduzida pela deputada estadual Neusa Cadore (PT), presidenta da Comissão, e reuniu mulheres de comunidades rurais e da sede, além de lideranças políticas, representantes do poder público e de movimentos de mulheres da região.

A vereadora Joilma lembrou das mulheres que quebram licuri como alternativa de renda, numa busca por autonomia econômica e empoderamento frente à violência e ao machismo. Ela denunciou também o alto índice de violência sofrida pelas mulheres no município. “De cada dez ocorrências, cinco estão enquadradas na lei Maria da Penha. Sem falar das mulheres que não vão à delegacia e daquelas que são exploradas”, disse Joilma.

Ela ressaltou que são vários tipos de violência em Várzea da Roça e destacou a situação do Brasil. “É preciso que a gente lembre que estamos vivendo tempos de retrocessos e perdas de direitos. Isso tem prejudicado acima de tudo a nós mulheres. A minha fé me diz que é em tempos de trevas que as luzes se tornam mais fortes. É tempo de intensificar as nossas forças e manter acesa as nossas luzes”, afirmou Joilma.

A deputada Neusa Cadore frisou a desigualdade nos espaços de poder e o aumento da violência contra a mulher no Estado. “Na Bahia, temos 105 municípios que não têm nenhuma mulher vereadora. No Brasil, na última eleição (2016), tivemos 2 mil municípios que não conseguiram garantir uma cadeira para uma mulher. Na Assembleia, de 63 vagas, só dez são ocupadas por mulheres”, pontuou Neusa.

A parlamentar disse que é preciso ter mais mulheres na política para enfrentar os problemas que afetam a vida das mulheres. “Nós estamos na luta e queremos participar da política para mudar essa realidade. Acolhemos as demandas apresentadas e vamos trabalhar unidas para avançarmos ainda mais”, afirmou a deputada. Ela falou ainda que é preciso ter um envolvimento maior das escolas e das famílias para enfrentar a violência.

Ronda Maria da Penha

A audiência contou com a contribuição de Ana Rios, Tenente da Polícia Militar, responsável pela Ronda Maria da Penha na Regional de Jacobina, e da Soldado Josenilda Vieira PM. Elas apresentaram os dados da Ronda em Jacobina e defenderam a ampliação dessa política que possuí, atualmente, 15 unidades instaladas no Estado. Em um ano e sete meses de atuação, a Ronda possui 110 mulheres em medida protetiva, já efetuou sete prisões e mais de 30 eventos preventivos. Foram 522 visitas, além de palestras e participação em eventos. “Desde que foi instalada não houve mais nenhum caso de feminicídio em Jacobina. A violência doméstica existe por uma questão cultural”, disse a Soldado Josenilda.

Movimento de Mulheres

Segundo Gildeane Mota, coordenadora da Câmara Técnica de Mulheres do Território Bacia do Jacuípe, muitas mulheres ainda tem seus direitos negados. Ela defendeu a participação da mulher e o envolvimento com as organizações sociais. “Quantas de nós morrerem por serem ousadas? A luta das mulheres é sobreviver, por isso onde tem mulheres que falam por nós e para nós, precisamos valorizar. Precisamos de mais mulheres nos espaços de decisão”, propôs.

De acordo com Luciene Rosa, membro do Coletivo de Mulheres Marielas de Capim Grosso, é preciso uma atuação conjunto dos diversos setores. “É necessário que a sociedade civil se una ao poder público. Não vamos acabar com o machismo sozinhas. Os homens têm que fazer parte desta luta. Este é um espaço de resistência e temos que fazer isso dentro de cada lugar. Só com políticas públicas a gente consegue avançar”, disse. Ela defendeu ainda um trabalho com o homem agressor.

Mulher negra, deficiência e saúde

Noemili Mota, da Comissão Especial de promoção da Igualdade Racial da OAB-BA, lembrou que não se pode falar em luta contra a violência doméstica sem falar de racismo. “A violência atinge diretamente as mulheres negras. Elas são as mais afetadas.”, apontou Noemili.

Situação que também aflige as mulheres com deficiência. “Imaginem o lugar da mulher com deficiência. Nós vivenciamos muitas formas de violência que nos mata em vida. Quando uma mulher com deficiência é violentada como é que ela é ouvida? E a mulher surda? A gente precisa de atendimento diferenciado. Precisamos pensar formas de proteção e cuidado também para essas mulheres”, alertou Adriana Bispo, presidenta da Associação Mairiense de Pessoas com Deficiência e vice-presidenta do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência.

Kátia Alves, Diretora do Núcleo Regional de Saúde, lembrou a atuação do governo do Estado com a Secretaria de Política para as Mulheres, a construção do Hospital da Mulher e das Policlínicas. Ela reconheceu os avanços, mas disse que ainda há dificuldade na questão da regulação dos partos.

Também participaram Milton Filho, vice-prefeito do município, Eliezer Costa, ex-prefeito de Quixabeira, o vereador Pororó (Mairi), vereador Florisvaldo (Várzea da Roça), entre outras autoridades. O evento contou ainda com apresentação teatral e leitura do cordel sobre a Lei Maria da Penha. 

Fonte: Ascom Neusa Cadore







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