Eulálio de Miranda Motta, natural de Mundo Novo-BA. Grande  poeta, de reconhecimento nacional.

O escritor

O escritor baiano Eulálio de Miranda Motta nasceu em 15 de abril de 1907, em Alto Bonito, pequena vila de Mundo Novo. Ele viveu sua infância entre o arraial e a Fazenda Morro Alto. A vivência no ambiente rural deixou fortes marcas no imaginário do poeta. Na adolescência, ele morou em Monte Alegre (hoje Mairi), onde trabalhou como balconista numa farmácia e conheceu a jovem Edy, por quem se apaixonou. Ela se casou com outro e Eulálio Motta alimentou um amor platônico durante toda a sua vida. Em 1925, ele se mudou para Salvador, instalando-se no Ginásio Ipiranga. Nos tempos ginasianos, conheceu Jorge Amado com quem manteve amizade. Cursou Farmácia na antiga Faculdade de Medicina da Bahia, em 1933, concluiu os estudos e retornou a Mundo Novo. No período que viveu em Salvador, Eulálio Motta participou da vida literária local publicando seus sonetos em revistas e jornais. Ele chegou a publicar dois livros de poesias, na década de 1930. Tornou-se integralista em 1933 e militou nas trincheiras da Ação Integralista Brasileira. Em 1934, abriu uma farmácia em Itabira (uma comunidade quilombola no município de Miguel Calmon), onde viveu até 1935, quando estabeleceu uma farmácia em Mundo Novo, retornando à cidade natal. Em 1948, publicou mais um livro de poesia, reeditado em 1983. Entre as décadas de 1930 e 1980 publicou panfletos em Mundo Novo, participando efetivamente dos acontecimentos políticos da cidade. Eulálio Motta faleceu em Salvador em 1988.

O acervo

Depois do falecimento do escritor (1988), o seu acervo permaneceu na casa onde ele morava,em Mundo Novo.

A documentação encontrava-se distribuída em armários e estantes em vários cômodos da casa, inclusive no porão.

A partir de 1999, Helder Sampaio, sobrinho do escritor, transferiu a guarda do acervo para Patrício Nunes Barreiros que se encarregou de sua organização.

Hoje, o acervo do escritor encontra-se, provisoriamente, na residência de Patrício Nunes Barreiros, em Feira de Santana, na Rua São Pedro, n. 55, Bairro Sim. Mas, futuramente, pretende-se criar um Núcleo de Estudo de Acervos de Escritores do Sertão Baiano, ligado ao Departamento de Letras e Artes da UEFS, onde essa documentação deverá ser depositada e disponibilizada para pesquisas (obedecendo a critérios de acesso à informação de cunho pessoal).

Descrição do acervo

O acervo de Eulálio Motta compõe-se principalmente de documentos arquivados pelo seu titular, por isso, partiu-se da ordenação dada por ele para estabelecer as séries e subséries. Após análise do material, foram identificados 2.416 documentos, cobrindo o período de 1910 a 1988. Clique aqui e veja mais.

O jornalista

Eulálio Motta participou ativamente de diversos jornais do interior da Bahia. No semanário Mundo Novo, da cidade homônima, ele manteve uma coluna permanente intitulada Rabiscos,entre 1926 e 1932, onde publicava causos engraçados, crônicas do cotidiano e fazia comentários de leituras sobre temas variados (literatura, economia, política, etc.). Em 1933, o Mundo Novo, mudou-se para a cidade de Jacobina e passou a se chamar O Lidador. N’O Lidador, ele não tinha uma coluna, mas, durante algum tempo, foi um dos colaboradores mais ativos. A partir de 1935, as publicações de Eulálio Motta começaram a ficar escassas, nesse jornal, até que em 1942 ele teve um desentendimento com o proprietário e deixou de publicar no O Lidador. Em 1945, Eulálio Motta iniciou a sua participação no jornal O Serrinhense. Nesse quinzenário, ele tinha uma coluna intitulada Atualidades onde publicava vários tipos de textos, crônicas, impressões de leituras, crítica política etc. A sua participação no O Serrinhense estendeu-se até o final da década de 1950. Eulálio Motta ainda participou ativamente nos jornais Gazeta do Povo de Feira de Santana,Folha do Norte de Morro do Chapéu e Vanguarda de Jacobina.

O poeta

Eulálio Motta dedicou-se à poesia durante toda a sua vida. Ele começou a escrever seus primeiros versos ainda na adolescência. Depois que se mudou para Salvador o desejo de se tornar poeta concretizou-se. Na capital, ele entrou em contato com os clássicos da literatura brasileira e francesa, fez amizade com poetas como Arthur de Salles, seu professor no Ipiranga, e aderiu à estética parnasiano-simbolista, dedicando-se à composição de sonetos. A primeira fase da poesia de Eulálio Motta apresenta um tom pessimista e de desencanto diante da vida, mas, a partir da década de 1930, ele passou a incorporar aspectos do modernismo em sua poesia, tratando de temas do cotidiano, explorando os falares regionais e os ritmos das cantigas populares. Alguns temas são recorrentes na poesia de Eulálio Motta: o amor impossível à moda dos ultra-românticos, o desencanto diante da vida, a memória da infância e a ação implacável do tempo que transforma a paisagem e as pessoas.

Biografia

Apesar de ter dedicado mais de sessenta anos de sua vida à atividade literária, Eulálio Motta publicou apenas três livros de poesias, alguns poemas dispersos em jornais, revistas e panfletos. Essas publicações representam menos de um terço de sua produção literária que se encontra inédita em documentos de seu acervo.

Entre os anos de 1927 e 1929, Eulálio Motta publicou sonetos nas revistas A Luva, Renascença, Vanguarda, nos jornais O Imparcial, Caderno da Bahia, Diário de Notícias e A Tarde. Naquele período a sociedade soteropolitana interessava-se pela poesia de herança parnasiana e os periódicos abriam espaço para esse tipo de poesia.

Em 1931, ele publicou seu primeiro livro de poesias Illusões que passaram…

Em 1933, veio a lume o segundo, Alma enferma.

O terceiro livro, Canções do meu caminho, teve duas edições. A primeira em 1948, editado pela tipografia do jornal O Serrinhense e a segunda em 1983, sem mencionar a editora.

Nos papéis de Eulálio Motta, constam títulos e índices de livros que ele não chegou a publicada. Clique aqui e veja mais.

O político

Eulálio Motta teve afinidades com o socialismo e os comunistas na década de 1920, mas, na década de 1930, ele se tornou integralista e sua atuação política passou a ser baseada nos fundamentos da Ação Integralista Brasileira (AIB).

Ele se tornou um dos responsáveis pela divulgação da doutrina de Plínio Salgado na região de Mundo Novo, discursando e publicando textos em jornais e panfletos avulsos. Com o fechamento da AIB por Getúlio Vargas em 1938, os integralistas tiveram que esperar a abertura política em 1945, para voltarem ao cenário político. Após a criação do Partido da Representação Popular (PRP), por Plínio Salgado, Eulálio Motta voltou à militância política, candidatou-se a deputado estadual em 1947, mas não foi eleito.

Em Mundo Novo, ele sempre colocou as questões pessoais acima de seus ideais político-ideológicos.A partir de sua ação panfletária, Eulálio Motta teve uma intensa participação na política de Mundo Novo, seus textos contribuíram para aquecer os calorosos debates e disputas pela prefeitura da cidade.

O pasquineiro

O pasquineiro da roça, como Eulálio Motta se autodenominava, utilizou-se de panfletos para fazer propaganda política, criticar de forma mordaz os seus adversários políticos, ovacionar seus correligionários e se promover enquanto poeta.

Eulálio Motta desenvolveu a técnica de panfletagem nos tempos de militante da Ação Integralista Brasileira e posteriormente como chefe do Partido da Representação Popular em Mundo Novo. A sua pena poderia ser violenta ou complacente, dependendo de suas intenções. Não raras vezes, uma pessoa que foi ovacionada num momento, era violentamente atacada logo depois. Os panfletos de Eulálio Motta começaram a circular desde o início da década de 1930, mas somente foram conservados 57 textos publicados entre 1949 a 1988.

Site

Página do Projeto de Edição e Estudo do Acervo de Eulálio Motta. Trata-se de um espaço para divulgação da produção científica relacionada ao escritor mundonovense e divulgar as ações dos pesquisadores e bolsistas do projeto Edição das obras literárias inéditas de Eulálio Motta.

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