Estudante baiana participará do Miss Brasil no dia 9 de março, em São Paulo

A história de Liliane Natiele tem todos os ingredientes praticamente obrigatórios na trajetória de uma miss. Disputava a televisão com a família para assistir a concursos de beleza, organizava os próprios desfiles, participou de pequenos concursos de beleza. Até aí, tudo conforme o figurino. Só que Liliane é mais: feminista, ex-agricultora e estudante de Direito na Universidade do Estado da Bahia, a vencedora do concurso Miss Bahia quer levantar a bandeira dos direitos das mulheres enquanto representa o estado nas próximas fases da disputa.

A jovem, natural do povoado Jaboticaba, no município de Quixabeira, no Centro-Norte do estado, teve uma infância dividida entre a casa da família e a roça de onde os pais tiravam o sustento. Eram os vizinhos quem apontavam os possíveis talentos da moça para a carreira de modelo.

“As pessoas me diziam isso quando eu passava na rua. Isso foi ficando em mim e se tornou um desejo”, lembra Liliane.

Do desejo, vieram os primeiros passos. Antes de ser eleita Miss Bahia, na noite desta quarta-feira (6), numa disputa entre 17 mulheres, em Salvador, ganhou sete dos oito concursos que participou, como o de Miss Região e Garota Regional. 

O tempo para os desfiles, esporádicos, era dividido com as obrigações do dia a dia. Formou-se técnica em agropecuária aos 18 anos e começou a trabalhar no campo. Nas vivências na fazenda, começou a ser vítima de machismo. Na verdade, num povoado com menos de três mil pessoas no norte da Bahia, algo que sempre esteve presente.

“No campo, existe uma imaturidade em relação à posição da mulher. Foi muito difícil me tornar quem sou hoje porque é um lugar mais arcaico, conservador”, conta Liliane.

A Miss Bahia conseguiu transformar dificuldades em combustível para suas lutas pessoais.

Quando terminou o Ensino Médio, decidiu o que seria no futuro: delegada especializada no direito às mulheres. Já começou a levar adiante um dos seus sonhos. “O mundo não respeita a mulher da maneira que ela deveria. Vim para Feira de Santana, larguei meus pais no lugar que eu amo, para poder conseguir fazer diferente”, orgulha-se ela. Questionada se é feminista, ela responde sem titubear:

“Acredito que toda mulher é feminista. Sou defensora da luta”.
Liliane foi eleita Miss Bahia nesta quarta-feira 
Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Acidente

Há três anos, Liliane deixou Jaboticaba e pegou a estrada rumo a Feira de Santana para tentar uma bolsa em um curso pré-vestibular e conseguir vaga na Uneb. O sonho de ser miss estava adormecido.

“Um ano antes de chegar em Feira, sofri um acidente de moto feio, fiquei com muitas cicatrizes, achei que não conseguiria mais [ser miss]”.

Seja pelo destino ou luta pessoal, Liliane acabou contratada como modelo de uma loja, entrou no cursinho e foi aprovada em Direito, no Campus de Jacobina.

Desde então, concilia os dois mundos de sua história. Até o próximo dia 20, ficará entre Salvador, Feira de Santana e Jaboticaba. Depois, seguirá para São Paulo, onde, no dia 9 de março, acontece a escolha pela próxima Miss Brasil. “Vai ser puxado, mas estou me preparando com aula de etiqueta e atividade física”, conta ela, que ama natação e dança.

O processo será contado por ela nas suas redes sociais, também como forma de empoderar outras mulheres.

“É uma ferramenta especial para que eu possa fazer com que as pessoas entendam que a beleza também está do lado de dentro”, explica.

Perguntada sobre o futuro mais próximo, entre a faculdade, a carreira de miss, e a futura profissão, Liliane brinca: “A gente descobre”. Agora, está preocupada em representar a Bahia de uma maneira diferente. Tem, inclusive, certeza dos incômodos que posições como a dela podem causar.

“Todo grito incomoda. Já passou da hora de enxergar a mulher engessada! A miss é uma mulher completa em si própria”, declara. E Liliane irá a São Paulo disposta a provar tudo isso.

Veja as medidas da miss:
Altura: 1,72 m
Cintura: 62 cm
Busto: 85 cm
Quadril: 85 cm

Fonte: Correio

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