O transplante de órgãos foi uma revolução na medicina, mas ela nunca libertou os pacientes da fila de espera e da necessidade de encontrar um órgão compatível. Agora, o que vem por aí pode ser uma nova revolução.

No Centro do Genoma Humano da USP, cientistas trabalham em dois novos tipos de transplante. A pesquisa é liderada por Mayana Zatz, uma das principais geneticistas do Brasil, e pelo médico Silvano Raia, pioneiro no transplante de fígado no país.

Num dos estudos, os pesquisadores estão desenvolvendo uma forma de transplantar rins de porcos para seres humanos.

“O porco, apesar de não ser reconhecido, é dos animais vertebrados superiores mais próximo do homem. Tem um ciclo biológico muito parecido com o nosso e são de fácil manuseio”.

Os cientistas estão editando o código genético de porcos para tentar evitar o risco de rejeição no transplante para seres humanos.

“Uma vez que você consegue porquinhos, um macho e uma fêmea, você faz então toda uma população, todos descendentes vão ter essa mesma característica”

Em outra pesquisa, os cientistas desenvolvem um transplante de fígado que seria assim: o fígado de um doador que já morreu passa por uma espécie de lavagem. Todas as células são retiradas. O que sobra é uma estrutura branca, oca, composta por proteínas. Como não tem células, não provoca rejeição em caso de transplante. Os médicos chamam essa estrutura de arcabouço.

Aí os pesquisadores retiram amostras de sangue do paciente que precisa de um fígado novo. Com as células-tronco do paciente, é possível produzir, em laboratório, os diferentes tipos de célula que compõem o fígado. Quando essas células estão prontas, são colocadas no arcabouço do fígado doado e se multiplicam.

“É como se as células tivessem uma receita, a receita de como elas têm que se comportar, como têm que se localizar. E elas obedecem a receita ao pé da letra”,

Com esse fígado novo, o paciente não precisaria de imunossupressores, os remédios para evitar que o organismo rejeite o novo órgão.

“Nós devemos considerar tanto o benefício para o paciente quanto a economia para o estado, porque o custo de uma imunossupressão durante anos, enquanto ele viver, é um. Esses recursos podem ser aplicados a mais transplantes e beneficiar mais pacientes”

A Fapesp, fundação de amparo à pesquisa de São Paulo, ajudou a financiar os estudos e eles vão ser apresentados em Londres.

Os pesquisadores estimam que, em dois ou três anos, essas técnicas estejam prontas para testes em humanos.

Já o diretor de transplantes do Hospital das Clínicas acha que o uso de órgãos de porcos é o que está mais perto de virar realidade. “O doente vai ter melhor resultado, o impacto socioeconômico vai ser melhor. Então é esse o cenário que eu sonho todo dia”, afirma Luiz Carneiro, diretor de transplantes de órgãos abdominais do HC.

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