Nesta seção, veremos como a evolução do modo de viver da atualidade resultou em sobrecarga na psique dos indivíduos, favorecendo o aparecimento de transtornos mentais, além de ter criado entraves para a recuperação de suas vítimas.

Em primeiro lugar, o estilo de vida dos calmonenses ─ hábitos, comportamentos, bens de consumo, crenças ─ vem evoluindo de forma intensa. Nossa geração enfrenta dilemas que nunca representaram preocupações para as gerações passadas, tais como: sensação de medo e insegurança, violência doméstica e urbana, consumo elevado de drogas e álcool, vício em tecnologias, estresse decorrente do excesso de atividades, pressões por ascensão econômica ou de escolaridade, apatia ao lazer, atos de desrespeito aos pais e mestres, enfraquecimento gradual dos valores de família. Além disso, merece destaque o predomínio, nos meios de comunicação de massa, de conteúdo negativista ou trágico, que distorce negativamente o senso de esperança e perspectiva da realidade. A despeito disso, especialistas locais defendem que a veiculação inadequada de casos de suicídio pode estar dificultando a prevenção desta mortalidade no Município.

No passado, as pressões pela busca do ter em detrimento do ser eram menores. A incidência desses fatores era ínfima ou inexistente dentro daquele contexto social. Todavia, no presente, atuam como forças externas e internas que sucumbem o gerenciamento do eu, no plano das emoções e sentimentos, debilitando o indivíduo como um todo. Por essa ótica, é possível compreender o alto índice de moradores acometidos por transtornos emocionais e psicológicos. Neste mês, foi veiculada uma notícia sobre um estudante que, a partir de uma agressão sofrida na escola, desenvolveu um transtorno psicológico que o levou a um desaparecimento repentino do seu lar.

Em segundo lugar, o individualismo está usurpando territórios essenciais à convivência saudável. Nesse processo, o indivíduo ocupa o tempo outrora destinado ao outro (social), reservando-o ao eu. O resultado disso é a multiplicação de indivíduos que adotam um estilo de vida preenchido por atividades e recreações voltadas à satisfação dos interesses pessoais, o que culmina com o aumento de pessoas solitárias ou isoladas socialmente. Como exemplo, em épocas passadas, podíamos ver crianças reunidas se divertindo durante o dia todo através de uma variedade de brinquedos artesanais; hoje, vemos crianças apáticas aprisionadas em quartos e vidradas em telas de dispositivos eletrônicos de última geração.

Esse modelo de vida ameaça o voluntariado ─ um recurso importante no apoio aos profissionais de saúde mental. Acaba reduzindo a quantidade de pessoas que se prontifiquem a tarefas de estímulo à autoestima e à socialização do doente, como aconselhamento, visitação, intercessão, enfim, pequenos gestos que podem ajudar na recuperação daqueles que se encontram em estados depressivos. Essa carência dificulta a redução da potencialidade no cometimento do suicídio. Portanto, a demanda por voluntários é grande, mas a oferta deles é pequena.

Em terceiro lugar, postulamos que o preconceito contra as pessoas que sofrem de alguma doença psicológica é o grande vilão a ser vencido nesta guerra contra o suicídio. Como o assunto é vasto e polêmico, será discutido na terceira seção. Aguarde!

Fonte: Caçuá Notícias/ Geferson Carvalho

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