Até os 17 anos, Alysson Muritiba, natural de município de Mairi, nunca tinha entrado em uma sala de cinema e, mais tarde, quando teve o primeiro contato com a gravação de uma cena para um filme, achou tudo muito chato. Para a sorte do cinema nacional, as pessoas mudam. Alysson, que hoje é mais conhecido como Aly Muritiba, dirigiu filmes premiados em festivais nacionais e internacionais, sendo que o último deles, "A Fábrica", esteve na lista preliminar dos indicados ao Oscar 2013. No dia 22 de janeiro, outra boa notícia para o baiano de 33 anos radicado em Curitiba. O roteiro do seu primeiro longa-metragem individual, "O homem que matou a minha amada morta", foi um dos quatro vencedores do Festival Sundance, promovido pelo Sundance Institute, fundado pelo ator e diretor Robert Redford, e pelo grupo indiano Mahindra.

Pelo prêmio, Muritiba receberá US$ 10 mil como ajuda para conclusão do roteiro e ainda acesso a reuniões criativas e voltadas para a indústria, participação em um laboratório de longas-metragens e um ano de orientação dos professores do Sundance Institute. O projeto já havia vencido, na categoria longa-metragem, a última edição do Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo do Paraná, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura, recebendo R$ 1 milhão para a realização do filme. O Sundance, festival realizado em Utah, nos Estados Unidos, premiou quatro novos talentos do cinema mundial. Além de Muritiba, foram contemplados um norte-americano, um indiano e um italiano.

Muritiba não gosta de títulos como esse que o Sundance prefere enfatizar em suas divulgações, do tipo "futuros grandes diretores do cinema mundial". "Eles gostam dessas coisas superlativas. Eles sabem fazer marketing. Eles são americanos", brinca.

Paixão recente

"Minha relação com o cinema é muito recente", conta Muritiba. Natural de Mairi, pequena cidade no interior da Bahia, ele só foi conhecer uma sala de exibição de filmes aos 18 anos, depois de ter se mudado para São Paulo. Até essa idade, o diretor só conhecia cinemas itinerantes, onde viu alguns filmes do Bruce Lee. Aos 20 e poucos anos, trabalhando como bilheteiro em uma estação de trens metropolitanos de São Paulo, ele teve contato pela primeira vez com a produção de um filme. Uma equipe passou um bom período de tempo no local para gravar algumas cenas, sendo que em uma delas Muritiba até participou como figurante. Ganhou R$ 50,00 para fazer o papel dele mesmo, o bilheteiro. A cena acabou cortada, mas o rapaz ganhou convite da produção para a estreia da fita em um festival.

Ainda não foi dessa vez que o cinema entrou na vida do jovem diretor. O interesse começou quando ele já havia se mudado para Curitiba, cidade onde morava a família de sua esposa - o cineasta conheceu a mulher na universidade, em São Paulo, quando estudava História. Sem emprego na capital paranaense, Muritiba prestou concurso para agente penitenciário, foi aprovado e atuou no sistema carcerário por vários anos, em uma unidade de São José dos Pinhais. Enquanto isso, decidiu prestar vestibular para o recém-criado curso de Cinema da Faculdade de Artes do Paraná (FAP).

Ele foi aprovado, começou a estudar, a fazer filmes e as constantes viagens para participar em festivais inviabilizou a conclusão do curso. Foi na FAP que Muritiba conheceu os dois outros sócios dele na produtora Grafo, Antônio Junior e Marisa Merlo. Em comum, os três têm o desejo de viver só de cinema. O grupo fez alguns vídeos institucionais para a Petrobras e não pretende partir para a publicidade. "Nós três queremos muito só fazer cinema", afirma.

Com a boa repercussão de "A Fábrica" e do Festival de Sundance, a expectativa é que esse sonho se concretize e que ele consiga fazer um filme por ano, como já vem acontecendo desde 2007, quando lançou "Convergências". "Se eu continuar tendo condições criativas e financeiras para realizar um filme por ano, eu estou tranquilo, eu estou feliz, eu estou bem", resume.

No segundo semestre de 2013, Muritiba quer rodar "O homem que matou a minha amada morta". O convites para formação do elenco devem começar em breve. O filme contará a história de um viúvo que idolatra a memória e os objetos da mulher, até descobrir um vídeo que mudará a imagem que esse homem tem da esposa.

Muritiba adianta que o filme será rodado na capital paranaense. "Curitiba, para mim, é ótima", afirma. "Cheguei aqui há sete anos como um estrangeiro e hoje em dia me sinto completamente pertencente à cidade e tenho conseguido realizar os meus filmes aqui."

As informações são do Folha Web

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